domingo, 28 de outubro de 2012

Saga da Filósofa de Merda 2 - O orgulho



Uma das frases que ouvi com recorrência na infância, é "quem se abaixa demais aparece o rabo", essa frase com certeza foi o lema de uma geração de pessoas orgulhosas, mesmo por que "se abaixar" para cada um é uma coisa, tem gente que acha que pedir desculpas é se abaixar, tem gente que acha que "se servir" é se abaixar, e por muito tempo coisas como varrer a rua, dirigir um ônibus ou um taxi, cuidar de uma casa...já foi se abaixar.

Mas...os tempos são outros, os mastodontes do mercado se foram, e hoje em dia, um motorista de ônibus é um partido concorridíssimo simplesmente por que tem uma carteira assinada, férias, 13º...

Mesmo que muito devagar, algumas diferenças entre classes sociais têm se aproximado, mais no que tange ao que poderia até ser considerado supérfluo: Me lembro que na minha infância, nunca ficamos sem empregadas domésticas em casa, às vezes até 2...me fez muito bem criar vínculos afetivos com essas mulheres, e comparando com hoje em dia, as roupas que elas usavam na década de 70 eram claramente inferiores às das "patroas", ouvi muitas reclamações à respeito da impossibilidade de cuidarem de seus cabelos, e analisando hoje, como esses simples acessos à vaidade, melhoram a auto-estima das pessoas de baixa renda...e quem desconsidere a importância desse fato, que se lembre dos filósofos Titãs: desejo, necessidade, vontade...a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.


Então, voltando ao orgulho, por muitas vezes eu achava estranho como essas mulheres que eu convivia tão de perto, eram tratadas, com pouca dignidade, então você vai pensando, o quanto as pessoas ligaram o termo "dignidade" a ter "status", o que obviamente não é vinculado um ao outro. Pode-se subentender então, e ainda bem, que os conceitos de "orgulho" de nossa sociedade, são tão mutáveis quanto às características do mercado de trabalho.

Proferir "estou desempregado" já foi tão maldito quanto "estou com câncer", hoje nossa realidade é outra e nem homens nem mulheres tem tempo de ficar se remoendo em mágoas e depressões entre um trabalho e outro, de certa forma nos acostumamos com isso, por isso, uma das coisas que separa as pessoas que hoje tem no máximo 40 anos das gerações anteriores é justamente o "conceito de orgulho" sendo de certa forma lapidado.

Isso é muito bom, pois se nos vemos hoje mergulhados numa sociedade marcada pelo total consumismo, quem for atento percebe sutilmente um nicho populacional que está migrando com muita luta, do verbo "ter" para o verbo "ser". Percebemos essa nuance claramente ao comparar justamente os Baby Boomers com a geração Y. Pois apesar de nem tantos quererem "ser", quem tem essa vontade encontra livre acesso às informações e a tendência é a expansão desses sentidos.

Quanto mais o tempo passa, vergonha é simplesmente "roubar e não poder levar" e o orgulho está vagarosamente deixando de ser um substantivo que nos limitava à mentalidades semelhantes dos senhores feudais, pra passar a ser um substantivo que usamos por ter tido a força de vontade de seguir um caminho particular.

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