segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Pelas Marias da Penha




Coloco aqui o meu nome e rosto, ciente de que eu deveria ter me exposto no momento em que eu tinha marcas.

"Maria da Penha" ainda não existia quando eu precisei dela, e como eu precisei...e iludido é quem crê, que o fim aparente da violência, é o fim definitivo dela ou de suas consequências.


As consequências dão mais socos nas famílias, do que os socos reais que as mulheres levam. Então elas vão percebendo, que não há fim pra essa dor quando seus filhos são criados assistindo essa trama: mais do que os pais dentro de suas consciências adultas, eles são engolidos por uma desilusão com a vida, desilusão essa que certamente vai poder levá-los pra mais caminhos ruins, do que bons.

Eu já quis um dia perdoar, já cheguei perto disso, mas a cada dia que se passou e eu vi sombras de dor nos meus filhos, eu entendi que as leis são imbecis, e que quem precisa ser protegido nesse momento, são as crianças e não apenas os seus já contaminados pais.

O inferno da vida de um homem violento, é aqui mesmo: e mesmo que as leis ainda sejam estúpidas, esse pústula vai assistir à sua volta os seus filhos desmoronarem.

Provavelmente pelo grau de ignorância que ele possui, ele vai acreditar que entrar para uma igreja e rezar, vai redimir os seus "pecados", e até esse sentimento nele é um sentimento egoísta, de quem quer desesperadamente fugir do inferno por ele mesmo criado...ele quer desesperadamente ser "absolvido" e só isso importa...e ainda não reconhece que nesse inferno, ele aprisionou aos seus próprios filhos, e o pior é que sua consciência doentia não fará o menor esforço pra os tirar de lá.

Ele vai dar as desculpas: A responsabilidade é da mãe, pois foi ela quem quis partir! Ele(a) já cresceu e eu não preciso mais ajudar em nada!! E por aí a vida segue, com esse cara cometendo ainda violências de omissão, que ele não percebe como sendo tão graves, quanto os momentos em que ele tirou sangue da mãe de seus filhos.

Conclusão: A vida dele continua, ele progride por ter tido a oportunidade de não ter responsabilidade sob as consequências, e a mulher? Passa pela a vida a fora, tendo a ótima oportunidade de ser a maior das fudidas, mesmo não apanhando mais, sofrendo as consequências da roda sem fim que a violência gerou nela e nos filhos.

Os filhos de pais violentos guardam dentro de si, todas as dores que uma mãe precisa esquecer, então não tem jeito: Em vários momentos essa mãe vai ensaiar esquecer o passado, até que o momento em que encostar o dedo na superfície da dor de seus filhos, a puxará de novo pra um mergulho nas próprias, que jamais será esquecido.

Eu já vi a sociedade se apiedar de diversos deles, já vi alguns recebendo méritos de bom cidadão, cavalheiro da cidade...e eles aceitam crendo que esses títulos comprovam a própria redenção.

Maria da Penha ainda é falha em diversos aspectos, o atendimento nas delegacias ainda é desumano, a delegacia da mulher de Niterói fica no terceiro piso sem elevador, subir machucada é difícil, e não é prioritário para as mulheres que apanham do marido, os delegados convencem as mulheres a ter pena de seus algozes, contando: Olha, não vai ter retorno, aqui está registrado que ele está fazendo um curso pelo governo, ele não poderá atuar. POIS QUE NÃO ATUE, que esses animais sejam de vez encarcerados, a cada dia como menos burocracia. Maltratar a cria, deveria ser considerado, o que realmente é: CRIME HEDIONDO. 

Violência doméstica tem que ser crime passível ao Ministério Público, para que a mulher não possa retirar a queixa, para que outras pessoas além dela mesma, possam dar queixa. Que país é esse em que uma mulher que se encontra claramente sob pressão, seja obrigada a raciocinar se ela deve ou não poupar os pais do seu filho. 

Como não há apoio financeiro para esta mulher, ela vai temer e retirar a queixa. A rede de proteção a essas vítimas precisa ser mais eficiente. Deveria até um vizinho poder dar queixa deste homem e a mulher intimada a fazer corpo delito, tirar as crianças do lar, caso seja comprovada a violência.

A prioridade da lei nesses casos, tem que ser tirar as crianças do lar, a obrigação da sociedade e do governo, deveria ser proteger os indefesos, antes do momento que eles não sejam mais indefesos e colaborem pra esse ciclo vicioso que se chama "violência".

Meu nome é Erika Pessanha, já se passaram anos do tempo em que eu tinha marcas em meu corpo, mas as cicatrizes dançam na minha alma e dos meus filhos, e não há Maria que amenize a minha dor.

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