sexta-feira, 25 de maio de 2012

Incompleto



Sou uma das pobres coitadas que se crê vítima do tédio...Minha natureza , assim como provavelmente a sua, é covarde de nomeia culpados para sua incompletude .

Desesperada, exploro minha imagem, pra tentar descobrir a parte mutilada...não encontro! Mas sinto, como se tivesse um braço decepado... um membro ausente, que faz com que eu passe dias e dias juntando nuvens, éteres, organismos ou bodes expiatórios para modelar como barro, o que falta em mim...inutilmente, pois desconheço a natureza desse órgão ou sentido.

Talvez capturar, se apossar de indivíduo alheio, promova uma ilusão de que esse vazio foi lacrado. Acho até, que o prazer sexual pode nem existir, ele é a ilusão agradável de que a parte fugitiva retornou, gerando segundos do estado que permaneceríamos caso fôssemos completos.

Mas são segundos...e quando ele se vai, batalhamos com essa provável, e muito cara metade, para que ela conforme-se em ter dono, mas sequer a ilusão dessa propriedade, aplaca o tédio.
Então, engolimos, consumimos, vestimos, tomamos posse, desbravamos...abraçando metas sem sentido para tentar ocupar nem se sabe o que...

O pior de tudo: O parceiro é o pobre culpado, por não ter o poder divino, ou biológico, de suprir vazios...talvez inexoravelmente impossíveis de preencher...

Natureza Morta



Recebemos  dois presentes, um  que  liberta e um consome...um são os pensamentos, que se sentem pássaros rodopiantes, outro é onde eles pousam:  o corpo,  essa gaiola penitente.

Dizem que um maravilhoso mestre dos céus, trouxe a vida de presente...esse breve espaço onde mesmo estando, nos sentimos ausentes..

Não somos dignos  de pairar revoadas, acompanhar manadas, estar em terras povoadas...empatizamos com a célula ainda não animada, protozoários inertes, átomos rodopiantes,  buracos negros, vórtex errantes. Pensamos  tanto que nos  identificamos com irracionais “impensantes”.

Eu só sei que não sei da nada, pois pouco me importa todo movimento dessas terras sob as pessoas paradas, diz-se por aí, que nossos restos ficam nessa base de crostas como covas, sendo elas inertes depósitos mortos  de nossos restos.

Não! Isso eu sei! Somos nós tanto o resto quanto a cova! O martírio e  o sepulcro, o enterro da natureza,  somos o cemitério da energia que se estagnou, crentes que somos os responsáveis pelo Universo que se expandiu. Somos apenas a matéria que não vingou.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Robô ou Louco




Um grande mestre,  escreveu um dia para o irmão, contando que tiraria proveito de sua melancolia...tirou, e cedo partiu mesmo assim, de um tiro...creio que qualquer caminho que ele tomasse, o levaria cedo ao fim, pois sua tristeza se consolidaria em uma doença se ele não a jogasse em seus quadros.

Ele é um dos que me ensinou que felicidade pode ser melancolia, dito que não é simples sinônimo de sorrir, sim de plenitude. Da mesma forma que determinados desmazelos físicos são irreversíveis, determinadas condições humanas, individuais, também. Nunca obrigue alguém a sorrir, nunca subestime o poder da dor daqueles que a tem costurada em suas vísceras. Nunca, mas nunca diga para essa pessoa, que ela não é digna do sucesso. Não tente bater na sua porta aos domingos, com um folheto de como alcançar o céu, muito menos com um livro de auto-ajuda.

Adequar mazelas à vida é assunto de acessibilidade... você se importa de como os cegos tem acessos aos ônibus, se todas as raças tem direitos iguais, se a medicina curará as doenças...saiba que os que não sorriem, precisam viver e também são belos. Caso você não compreenda o que estou dizendo, talvez seria um dos que não comprou um dos quadros de Van Gogh... Lembrem-se dele toda vez que não respeitarem ou compreenderem “diferenças”, que não é pertinente apenas ao âmbito físico. Estaremos perto de sermos  tolerantes, quando enxergarmos que não respeitamos sequer diferenças emocionais, condições intelectuais, nuances psicológicas diferentes dos padrões estipulados.

Ainda vivemos em uma época em que se acredita que “felicidade” é uma condição e um conceito para conseguir um bom emprego, e se resume "felicidade" como um gráfico de interseção entre os risos que o sujeito dá e sua capacidade de resiliência. Me pergunto como ser resiliente a um falso amor, a um “não desejo”.

Acredita-se que o misto de palhaço e robô produz mais. Talvez estejam certos: para produzir coisas inúteis em escala são necessárias essas características...para ter uma vida longa, também.




TPM




Minha alma explode anseios femininos interferindo no meu corpo, e minhas veias latejam gritando para eu morrer dramática como meus ancestrais italianos...que essa parcela do meu sangue me mantenha quente e que  me traga sempre meus constantes arroubos de irracionalidade que me mantém sã.

Sim, essa COISA, sou eu, e não luto mais contra isso, pois a lua que se esconda quando me trouxer sua magia, quase histérica, aquele raio que nos atinge sob a desculpa de menarcas, puerpérios, climatérios ou quaisquer fisiologias que justifiquem meus momentos bicho.

Você que reclama, não queira me conhecer sem meus dramas, sem crises ou momentos de simples dor... minha inconstância constata e possibilita a vida, pois ela é simplesmente a parada na estrada, o respiro para continuar a caminhar, o desalinho se alinhando, o desequilíbrio reequilibrando ou quem sabe a busca de uma dose de fisiologias delirantes, drogas naturais... adrenalinas artificiais...que tornam esse mundo melhor.