quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O quarto branco



A vida é um quarto branco, de paredes almofadadas que não amortecem a dor, e eu preciso escrever nelas pra tentar tornar esse cômodo mais atraente e menos cruel.

Nesse cubículo penoso, não há outra atividade que eu consiga exercer, e já foram tantas as vezes que eu mesma, me transmutei em paredes brancas da vida, pra amortecer a queda alheia, que já não sei mais se eu sou mulher, parede ou papel.


Pois eles estão se fundindo a mim como se fundem à própria vida, e meu espírito pra ficar de pé se misturou de matérias estranhas, como notas musicais do grito, a rosa de cores da vida por vezes monocromática, telas de cinema demolido...quadros, muitos quadros quase renascentistas, presos nesse castigo que mais parece o meu museu.

Estou pegando um enorme martelo que derrube esse branco, preciso saber o que está do lado de fora e acreditar que o hoje, aqui e agora, são apenas uma breve passagem de acesso, a diversos outros quartos de paredes mais coloridas.

Como se fosse cega, idealizo todas essas formas fora daqui, e pode ser que tudo seja menos atraente do que minha cegueira me leva a crer que é.

Mas eu preciso enxergar, não mais por um pequeno buraco na parede que distorce a dimensão das coisas e me mantém em ponto cego.

Com a tinta vermelha que corre em minhas veias, eu tento humanizar esse ambiente, mas não há mais espaço sem letras nesse único lugar que acolhe as minhas sombras, meu sangue está se esgotando, está ficando escuro e ninguém pode me trazer uma trazer uma luz.

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