quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sexo e Limites

Os fatos são reais, talvez eu tenha acrescentado com o passar dos anos minhas próprias fantasias...Foi a primeira morte que eu tive contato em minha vida:
Ela pulou do 12° andar, tinha apenas 32 anos, deve ter sido mais ou menos em 1979,escutei a filha contar que quando chegou, o braço dela estava pendurado no balanço, o rosto teve que ser enxertado de algodão para ser colocado no caixão, a filha beijava seu rosto na hora do velório e o algodão colocado pra rechear...afundava...Ouvi: Haviam fezes para todos os lados...o intestino explode na queda....Esses detalhes, ouvi na época com 8 anos de idade.
Poucos anos mais tarde, soube que na época, seu marido a estava traindo, ela começou entrar no jogo, inventava (ou não) histórias para fazer ciúmes, ela, foi literalmente, enlouquecendo, pirando pra valer...até culminar nesse fato. Ninguém sabe até hoje se ela se matou ou foi morta, a filha me disse anos mais tarde, que o pai a trancou no quarto nesse dia, antes do acontecido.
Um pouco mais tarde soube de outras situações onde a traição fazia parte da rotina (tanto das mulheres como dos homens)...soube de histórias dos meus avós, tios, pais...nossa...rotineiro.
Não tem moral da história, não quis dizer que trair leva a morte ou à loucura, mas sim que as pessoas têm que conhecer os seus próprios limites, e os limites daqueles que nos cercam. Sou amoral em comentar que trair é uma opção.Que pode oscilar de destrutiva à terapêutica, dependendo da estrutura da pessoa, de sua educação, independência e etc...principalmente...poupem as crianças...conflitos sexuais, todo mundo tem, devemos resolvê-los da forma que a nossa civilidade restrita permitir,consciente de que é um caminho íntimo, particular...
Hoje percebo que fui sorteada, não conheço ninguém que tenha convivido com assuntos de sexo tão cedo, digo, conviver com histórias de traição, que em mim...doíam muito,dispensando os detalhes dos porquês. Algumas destas pessoas, casais, estão juntos até hoje:
Meus avós morreram um poucos anos depois do outro, lamentando o amor que não se dedicaram, dizia ela: Quero nascer de novo, para comprar uma camisola bem sensual e esperar ele todo dia de noite,...
Meu tios ainda dividem as contas, os problemas dos filhos,  e poucas alegrias.
Meus pais...juntos até hoje, sempre fizeram jogos de ciúmes (que provavelmente lhes causavam prazer), têm uma lista de problemas...mas eu nunca vi duas pessoas com mais afinidade...e hoje em dia...aos seus 60 e poucos anos, não vivem um sem o outro.
Eu, no meu primeiro casamento, o que mais passei foi por traição (aquilo que eu dizia que nunca suportaria...não precisa nem explicar por que).
Conviver com toda essa realidade desde a infância, me transformou numa moralista, e assim permaneci por muitos anos de minha vida, olhando para todos do alto do meu pedestal inalcansável. Eu tinha desejos...principalmente na fase mais precária do meu primeiro casamento, mas os massacrava em algum espaço abandonado da minha consciência, não sei bem se pra poupar a dor alheia ou para me manter no tal pedestal.E também, não tinha mais nada que classificasse o meu ex marido, como um bom companheiro, absolutamente nada, afinidade, carinho, zelo, amizade..não existia nada, sequer uma “traição terapêutica” surtiria efeito, mesmo por que, eu conheço meus limites de auto-aceitação, e trair não faz parte do meu vocabulário conjugado em primeira pessoa. O que nunca foi por exemplo o caso dos meus pais.
Traição, desejo...o que é trair? É burlar as normas, sexuais, pré-estabelecidas em uma relação. Não fui eu quem estipulei essas normas, nem meus pais, tios ou avós...Não foi o homem primordial (primitivo), também, esse não possuía, obviamente essas normas, haviam desejos, e esses desejos eram cumpridos, antes que se tornassem fantasias.
Estatisticamente falando, os homens executam com mais facilidade seus desejos do que as mulheres, e as mulheres, por nem sempre executá-los, são mais fantasiosas.
Ninguém compra uma revistinha de homem pelado pra uma adolescente, é feio...ainda nos tempos modernos, quando o desejo vem, as meninas ainda tem que “imaginar”...a imaginação não deixa rastros, não deixa provas, por isso vamos nos tornando mais sinestésicas, menos visuais.
Mulher quando trai, se justifica (falsamente, pra limpar a consciência) dizendo que não possui afeto suficiente, a meu ver, a falta de afeto, é uma desculpa, uma justificativa pra executar o desejo já pré-existente. Precisaríamos nós dessa desculpa?Tão honesto e real da parte dos homens (de certa forma) trair pura e simplesmente para cumprir seus desejos. Sensato lembrar que somos realmente animais, com pretensão de ser algo maior...por causa do nosso “presente de grego”: A razão.
Parto hoje do princípio, que desejo não realizado vira fantasia, a fantasia é uma realidade inexistente, infinitamente melhorada. Fantasiar e executar essa fantasia, é a mesma coisa que ler um livro e logo depois ver o filme desse livro (o livro é sempre muito melhor), ou seja, nada supera a fantasia.
A maioria das fantasias, só funcionam sendo fantasias, depois de executadas o desejo morre, ou por que foi cumprido, ou por que não correspondeu às expectativas...ou podem até ser destrutivas.
Outra questão: Suporto o peso da fantasia cumprida? Eu não suporto...A tal moça de 32 anos não suportou, muitas outras conviveram bem com ela, algumas até tiraram proveito, aprenderam...fizeram outros sentir dor ou não.
O casamento é uma opção social, que a meu ver, carrega 2 acordos paralelos:
1-Um acordo superficial ou oficial, que é este que a sociedade escreveu para nós, que carrega consigo os conceitos atuais de fidelidade.
2-E um íntimo: Que são as aceitações, os jogos, que os casais vão criando, conscientemente ou não, verbalmente ou não, esses são mais direcionados pelos nossos instintos do que pelo “homem social” que construíram para nós. Esse acordo é o “Perturbado”, e leva fama de desonesto, por que este é o que te impele a trair, a cumprir o desejo ou oscilar em cumpri-lo, ou criar artifícios para cumpri-lo sem culpa.
Desci do meu pedestal depois que cumpri alguns dos meus desejos...os decodifiquei, e sei hoje, manter minhas fantasias e desejos, num lugar cômodo e consciente. Me mantenho satisfeita...isso é importante...a satisfação têm que prevalecer de alguma forma, sexual e afetivamente falando.
Mas procuro compreender, aceitar, não julgar ou exigir como antigamente.
Não suporto comentar sobre “homem e mulher” de maneira simplista como num livro de auto-ajuda...patético comentar do excesso de sensibilidade feminina e dos protótipos de machismo, se não somos iguais, hoje, é por culpa nossa...se as diferenças se iniciaram por que a maternidade, primitivamente era responsabilidade feminina, hoje, tudo pode ser evitado, mas preferimos ainda criar nossos filhos de forma diferente, por que assim aprendemos...
Ensinamos eles a serem sociais, sociáveis, educados, comprometidos sexualmente...e não sabemos até hoje lidar com os nossos próprios instintos de forma amoral porém fiel. Fiel sim, as nossas origens, biologia, química...conflito...tão complexo e tão simples se pensarmos que em certa altura de nossas vidas, o que conta, são outros sentimentos e prazeres.