terça-feira, 16 de outubro de 2012

l'égoïsme deux




Egoísmo a dois...termo recorrente entre alguns pensadores franceses, ao se referir às relações conjugais mais comuns ao nosso tempo. E eu sempre senti isso, mas nunca soube explicar, mesmo por que nós somos sempre massacrados por nossas referências.

Eu me lembro de uma vez, que eu tinha por volta dos meus 17 anos, e eu já estava, absurdamente noiva, alguém me disse que o amor e a fidelidade era uma ilusão, e que eu não poderia me casar, presa a essa ilusão, lembro como se fosse hoje, o meu sentimento de revolta pra com essa pessoa, e enxerguei como uma asa negra a amaldiçoar os meus sonhos.

Mais tarde, já casada e completamente desiludida, justamente por ter passado pelos "presságios desse oráculo" que me apavorou, eu insisti por alguns anos em consertar as coisas, que hoje entendo claramente que não tinham conserto, uma grande amiga, já separada por um bom tempo, me disse que em cada fase de sua vida, ela necessitou de um parceiro diferente, que a ajudou em algum aspecto de seu crescimento. A esta eu não mais vi, como uma pressagiadora de alguma maldição, pelo contrário, a vi como uma mulher vivida, que por olhar para os fatos como um todo: compreende o início, meio e fim das coisas.

Hoje concordo que os casais travam entre si, uma luta sem sentido, para encaixar um ao outro em sua realidade, na maioria das vezes, sob a desculpa da preservação de uma "instituição" chamada família. Contraditoriamente, é essa tentativa inútil de presevação, que destrói, não apenas o casal...mas leva nessa torrente os próprios filhos, que encaram esse exemplo, como o correto para a vida.

A pretensão de dominar o correto, pertence a imaturidade e a ignorância, isso pra mim, tanto é claro como triste, compreender que eu precisei lutar contra mim mesma, pra aceitar as incongruências de uma energia que pode ter diversos níveis e nuances, pra um só nome: AMOR.

Eu poderia declarar em linguagem de diversas religiões ou correntes, que o meu destino, karma, caminho, meta...é aprender a amar. Saindo de mim e do meu próprio egoísmo, entendo que eu não carrego sózinha esse carma (ou seja lá que nome tiver), por que esse aprendizado é um destino comum a todos os homens.

Não nomeio mais força alguma, e nem declaro ou dou nomes pra origem das coisas , pois como já disse: Isso é pretensão dos jovens, mas eu creio, que a vida conspira, pra que aprendamos a não ser egoístas, não é uma entidade que faz isso conosco, é a própria natureza.

Não acredito em mundo ou relações perfeitas, e quem acredita que vá assistir "Admirável Mundo Novo", pra compreender pra onde nossos excessos de cientificismos, vão nos encaminhar, pois nada pode ser mais caótico o utópico, do que acreditar que nós, bichos metidos a besta, temos a capacidade de alcançar algum tipo de perfeição...e infelizmente, é com base nesse ideal de perfeição, que escolhemos os nossos parceiros, justamente isso é o "l'égoïsme deux".

O mundo absolutamente não será frio ou sem vida, se invertermos nossos valores, a força dos nossos antepassados morais, nos grita direto de nosso inconsciente nos enganando, que o melhor para a família é nos degladiarmos em prol dessa instituição a caminho da falência...e quem a conduziu pra esse trágico final foi o EGOÍSMO, excesso de moral e limitação de nossos próprios caminhos em função de um cojunto de regras ultrapassadas, que se chama moral e bons costumes. E hoje eu entendo que aos meus 17 anos eu não era simplesmente idealista, ou moralista, eu era simplesmente EGOÍSTA.

Meu próprio empirismo me leva a crer que nosso destino é aprender a amar de forma limpa, sendo que amar de forma limpa está longe, bem longe do que idealizamos como perfeição...

Idealizações coletivas são um perigo, por que elas são trilhos arrebentados, numa caminhada ao encontro de si mesmo, de nossa essência e de nossas diferenças de nuances, vastas...infinitamente particulares a cada indivíduo. As relações simbióticas que aprendemos a construir, são um machado que cortam nossa individualidade e crescimento.

Não sei, e ninguém sabe onde o mundo vai chegar, se continuarmos dentro desse sistema mesquinho, dentro dessa arrogância de crer, que a vida existe pra nos beneficiar com algumas medalhas de honra ao mérito, por ter subido ao pódium de nossos códigos morais, códigos esses que nos trouxeram aqui, nesse tempo e espaço onde tudo é cruel, egoísta e ignorante.

E certamente essa destruição começou no momento em que as pessoas se uniram em duplas, e jogaram a debilidade de seus egos para dentro de 4 paredes, numa incessante guerra à favor da família e contra todos aqueles que deveríamos ter a lucidez de compreender que são nossos irmãos...

O esquecimento da nossa irmandade nos incluiu no maior gueto que a humanidade já teve, esses guetos que temos considerado nosso porto seguro: "a família", tem sido soterrada por nosso "l'égoïsme deux".

Se é para nos unirmos em casal com algum objetivo, que seja pra beneficiar aos homens e à vida, e não simplesmente a si mesmo.

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