sábado, 20 de outubro de 2012

Quando o amor pede distância



Uma matilha de lobos, cansada de tanto andar, parou em uma região de escassez, pois por mais que andassem, não encontravam fartura e por isso, ficaram por ali condenados. 

A fome dominou os lobos integrantes dessa grande família, e aos poucos, todos os instintos de preservação de grupo que eles possuíam, foram por água a baixo.


Tudo começou com pequenas provocações, brigas pela fêmea, lutas por pequenos pedaços de lebre...e quando deram por si, estavam matando uns aos outros, os mais fortes sobreviveram sem maiores danos ou feridas, mas sobrou também uma parcela de lobos oprimidos, que por sorte não morreram, mas sobreviveram repletos de feridas.

Os lobos fortes partiram sem oferecer ajuda alguma, pois para estes, os outros só tinham valor no momento em que eram saudáveis, mesmo estes sendo da mesma família, aos oprimidos nada restou senão permanecerem por ali. No meio de todas essa desgraça, uma fêmea saudável se manteve perto de sua filhote ferida.

A filhote estava tão, mas tão ferida, que sua mãe sequer cogitava a possibilidade de ir buscar alimento, então se manteve por ali, na sua crença de que era isso que sua filhote precisava, os anos foram passando com a loba contando com a "bondade" dos outros lobos presentes, e o tempo passou tanto, mas tanto, que essa loba esqueceu como era a sua arte de caçar.

De repente, ela se deu por conta de que em algum momento da vida, ela não estaria mais ali pra proteger sua filhote, então ela tentou recuperá-la com mais intensidade e por muitas, muitas vezes perdia a paciência e logo depois se acometia da culpa por estar cobrando algo para uma filhote ferida...então essa filhote ferida, mesmo não estando mais tão ferida era tratada como tal.

Ela já havia se acostumado a apenas esperar pela proteção de sua mãe...então por mais que a loba a incentivasse a sua filha a ter forças, a se levantar, o comodismo já havia tomado conta dela.

Todos aqueles que queriam se eximir de alguma responsabilidade, falavam para a mãe: Você é mãe e tem que ficar ao lado dela! Então ela ficava e tentava, e tentava, e tentava...Nesse momento, a própria loba ficou confusa, sem compreender se sua filha tinha sequelas e limitações ou se ela se beneficiava dessas sequelas e limitações.

Mas essa loba filha, machucada e crescida teve um filhote macho, e a loba mais velha, agora avó, entendendo que se sua filha, sabia ensinar a cria dela, coisas que a mesma fingia desconhecer completamente...entendeu que estava sendo enganada.

Quando ela compreendeu, que sua mãe não mais entraria em seu jogo, ela começou a ferir a própria mãe. Sua mãe triste, compreendeu que sua filha já foi vítima e conseguiu enxergar que já não o era mais, havia se tornado tão agressiva quanto os lobos que fugiram da matilha.

A mãe também entendeu que houve um momento chave, em que sua filha poderia ESCOLHER entre seguir o caminho dela ou o dos lobos que partiram, e ela havia escolhido errado. 

Nesse momento essa mãe também entendeu que todos aqueles lobos que partiram, em algum momento da vida tiveram que fazer essa mesma escolha, então isso também a ajudou a não olhar mais para esses lobos cruéis, como seres que haviam nascido já ruins. 

Nesse momento então, os carinhos dessa loba se estenderam até para aqueles que ela antes julgava como lobos ruins. Outra coisa que ela compreendeu é que a sua permanência naquele local, manteria sua filha em eterna dependência.

Cada um dos que estava presenciando esse momento de rompimento, teve o seu próprio juízo perante a atitude da loba mãe: -Você não pode abandonar sua filha! Nunca se abandona um filho! Sua obrigação é se manter perto dela! Você se tornou uma loba ruim!!

Mas a loba pouco se importou com esses julgamentos, ela sabia que ninguém estava em sua pele, e que ninguém queria mais bem pra sua filha do que ela mesma. Então, se por muitos anos ela acreditou que amar é impreterivelmente estar perto, finalmente ela quebrou suas fronteiras do entendimento do amor, percebeu que no fundo estava sendo egoísta, e que amar não é apenas socorrer e estar sempre por perto, então ela partiu.

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