segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Loba e o Cordeiro




Fábula de ERIKA - Fabulista brasileira do século XXI d.C. (pela amizade dos "que crêem", com os que "não crêem")

A cerca quebrou e um cordeiro fugiu, fugiu pro meio da mata e lá ficou, apesar de saber voltar ele queria saber mais sobre o mundo.

Nesse coração verde, uma matilha de lobos estraçalhava sua presa do dia, e uma loba mais fraca que os lobos, com fome...sentiu o cheiro do cordeiro, e foi atrás dele tão sofrega, que no caminho machucou uma de suas patas, mas ela estava com fome e precisava se alimentar, por isso continuou andando com todas as suas forças.

Ela avistou o cordeiro, deu um pulo pra dar seu bote, mas com sua pata ferida o impulso não foi completo e ela caiu desfalecida ao lado do cordeiro.

O cordeiro não era ingênuo e sabia dos perigos, em compensação ele tinha sede que entender como eram os seres fora de sua cerca, então ele quis cuidar da loba, arrancou o máximo que pode de sua lã, para estancar a ferida da loba, que já acordando, se sentiu aquecida do frio que estava, e o cordeiro foi logo falando:

Você precisa de mim, não me ataque só por que sou diferente de você, o fato é que você não sabe quando vai ficar boa e se vai precisar de mais da minha lã.

Tudo bem, respondeu a loba, mas o que o seu rebanho vai pensar de você quando descobrir que você cuidou de um inimigo?

Inimigo? Respondeu o cordeiro...eu de certo já ouvi muitos cordeiros citarem os perigos da floresta, e essa pra mim é uma boa chance de mostrar que as coisas não são assim.

Sei...Respondeu a loba, você quer praticamente contrariar a natureza, estamos um de cada lado por que não temos a mesma origem, não nos alimentamos das mesmas coisas, e a mim foi ensinado que eu devo te devorar com a mesma intensidade que você foi ensinado a fugir de mim.

Você então não acha então que é uma chance de mostrar pra sua matilha de que as coisas não são bem assim?

Mas pra que cordeiro? Se sempre fizemos assim e tanto existem lobos vivos como cordeiros.

Não sabemos o dia de amanhã...os dias tem esfriado e sua chance de morrer de frio é maior do que sua chance de morrer de fome.

Você está dizendo que vai nos agasalhar? Apesar de eu ser da floresta e você dos pastos? Qual vai ser sua vantagem?

Convença-os a evitar de comer os cordeiros, diga que você fez uma acordo com o fazendeiro em não comer os cordeiros dele e em troca ele te dará lã, isso pra mim já é o lucro: ter sempre mais cordeiros no meu rebanho. Isso não vai amenizar imediatamente nossas inimizades, mas vai nos evitar alguns sofrimentos.

Imagine então ingênuo cordeiro, se as onças que também são seus predadores, virem a nós lobos, camuflados sob a sua lã...vão nos atacar...

Não vão, se você fizer com eles o mesmo acordo que fizerem comigo: você passa mais lã para eles, eu reponho o seu estoque.

Sua proposta não é de todo ruim, faz sentido...e pensando bem, eu nunca havia ouvido um carneiro, agora que ouvi, não sei se vou ter forças pra te devorar, antes pra mim você era apenas o que eu aprendi a devorar...e agora? 

Combinado então: Toda vez que tiver muito frio nos encontramos aqui, conversamos e você me dá mais lã, digo que peguei a tosa do fazendeiro, e você diz para os seus que...bom, o que você pode falar pros seus?

Eu não vou falar nada pra eles me darem a lã, eu poderia dizer simplesmente que menos carneiros vão ser atacados, vou apenas pedir que confiem em mim, e todas as vezes que eu vier aqui você me conta o que os lobos tem feito, fugi por que tenho sede de conhecimento e você pode me ajudar a entender sua matilha.

E assim foi feito: Todas as noites de frio estas duas criaturas opostas se encontravam, elas sabiam também que no passar dos anos aos poucos, alguns a mais da matilha iriam se aproximar assim como os que forneciam lã...

De tanto que eles trocaram idéias eles aprenderam a se respeitar, e iam aos poucos contando pros seus filhos sobre um lugar da floresta em que bichos de espécies diferentes, comem, riem, vivem como se todos fossem apenas filhos do luar.

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