terça-feira, 6 de novembro de 2012

Shoppings podem ser belos




Depois de muitos dias sem sair de casa e muitos anos sem sair de mim, meu primeiro desejo, ao menos o primeiro possível de ser relatado sem censuras, foi ler Bukowiski...

Talvez eu nem o quisesse ler, mas necessitei de uma meta suportável para os meus sentidos, que me fizesse ao menos sair do lugar em que eu estava, indo em linha reta pra outro, ao qual eu deveria tentar ignorar o meu repúdio a superficialidade de todos os transeuntes, que mais me cheirariam como obstáculos a um mundo que eu considere ao menos aceitável.

Por vezes só em me imaginar nas ruas já sinto descontentamento, não se trata de pavor, quem me dera o fosse...pois o pavor gera algum tipo de reação de defesa que faz até feras condenadas reagirem repentinamente, eu não, sequer almejo reagir, simplesmente não encontro motivação que manifeste em meu corpo o movimento para certas direções. Eu seria capaz de enfrentar um deserto pra chegar em um lugar onde eu encontrasse pessoas com os conceitos de humanidade que criei pra mim. Como louca, sairia pela minha porta enfrentando uma tempestade que carregou telhados, derrubou postes, provocou blackout, pra chegar em um oásis onde eu sinta que a expressão é a alma de seus visitantes.

Mas até onde minhas limitações me permitem chegar nesse momento, não há esse lugar. Há lugares colméias repletos de pessoas abelhas, cumprindo suas funções na crença de que estão usufruindo e progredindo, e é assim que eu as vejo. Saindo do meu universo de pensamentos surreais e oníricos que construí, eu me sufoco nas ruas da realidade, que de tão dura que é, me sinto planando sem com que meus sentidos me permitam sentir meus passos, tudo é estranho, lento, embaçado dentro desse mundo que se considera verdadeiro.

Tento entender as intenções de todos que estão por ali crendo que estão vivendo, ao se abster dos mais simples sentidos da vida. O gosto quente de café desse pela minha garganta, estou sentada no meio desse redemoinho de pessoas rodando em círculos de sobes e desces de escadas rolantes, e de súbito me lembro das construções ilusórias de Escher e suas escadas que não principiam e nem findam, suas colunas que sustentam sem ter lógica e coloco nelas...personagens de Chagall, seus amantes flutuantes, suas pessoas ilusórias...

Mas o barulho pra mim é ensurdecedor...o esforço valeu à pena pelo gosto de café, a livraria do paraíso humano não tinha nenhum das dezenas de títulos de Bukowiski...mas sem problemas, ele está intrínseco na minha puta insatisfação com a realidade e quem sabe nas idéias que aqui e agora, não me cabem descrever...mas eu encontrei Virgínia, ainda bem, ela salvou o meu passeio pelas ruas e vai me ajudar em meus próximos passeios surreais.

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