quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O sol e a lama




Sonhei que andando sobre a lama, eu catava as flores nascidas do lodo, e por ali estarem não eram bonitas ou saudáveis, eram cinza ou lamacentas, mesmo assim eu não conseguia deixar elas ali em meio a cactus, plantas carnívoras, pragas da pior espécie.

Estiquei meus braços ao oceano, e com o crânio de uma das minhas personalidades mortas, eu recolhi a água e lavei minhas flores.

Gritei com autoridade pro vento, pra ele ventar com a delicadeza de quem seca asas de borboleta, ele tentou me obedecer mas às vezes se desviava, mas o meu sopro com nuvens azuis, levavam o ar pras minhas flores.

Eu não sabia onde plantá-las, se queriam calor ou frio, umidade ou sertão, então eu parei com elas pelo sistema solar, cada hora as levando a um planeta mais propício, até em Mercúrio...e tive que exigir ao sol que ele resfriasse assim como algumas vezes eu ordenei a lua que brilhasse uma luz particular.

Assim minhas flores cresceram...eu podia até imaginar que elas criassem pernas pois não teriam instrumento pra ir pra tão longe de mim, mas elas criaram asas e eu não sou dona do destino.

As levei em tantas galáxias, apresentei as viagens no tempo, fiz elas terem a estrutura bem diferente das flores do firmamento. Mas elas partiram.

Pra minha surpresa elas voltaram pro lodo, acarinharam cactus, rolaram no rio da beira da lama sobre vitórias régias, todo aquele chão parecia delas...senti raiva, senti ciúmes...

Mas acabei entendendo...pois cada uma colheu uma nova planta para cuidar então olhei para os meus pés, e vi que não eram pés, eram raízes brotando naquele lugar, agradeci, não só aos planetas, aos astros...agradeci ao lodo e a lama, na certeza de que as matérias se misturam como o sol e o limo, a lua e o chão, o claro e o escuro, a paz e as sombras, tudo, absolutamente tudo que existe tem seu oposto extremo pra equilibrar.

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