Portrait da criança estranha

Quando eu ando pelas ruas, e passo por crianças quietas e com olhares distantes, eu sei onde elas estão, foi por lá que eu andei...olho pra elas e sorrio, sorrio enquanto os "não estranhos" se apiedam as enxergando como autômatos.

Quem aqui é autômato? Se o meu mundo nunca foi de metal! Eu não cultuo culturas que acordaram a Terra pra sugar os seus sonhos, pois eu tenho os meus é neles que eu encontro matérias pra traçar o universo.

Então, quando você passar também pelas ruas e ver uma criança sentada em um banco, enquanto as outras brincam...grite pelas que brincam e as peçam que cultivem também o silêncio, implorem que elas criem amigos invisíveis, contem as verdades:

-Olha menina, existem mais cores no mundo, do que as que você está vendo!!

-Vocês sabiam que seus sonhos são mais elaborados que as suas avaliações escolares?

-Não menino! Não acredite no que falam de você!

-Não existe a escolha certa!! Não existe sequer o certo e o errado!!

É...dedicaria minha vida a fotografar crianças silenciosas, só portrait! Não lhes pediria um sorriso e nem que colocassem suas melhores roupas, eu queria apenas o olhar.

Quem sabe um dia todos iriam olhar bem de pertinho!! Dentro dessas íris rajadas, e apenas dentro delas, estaria o mundo ainda intocado, pessoas voadoras, bichos falantes, vales verdejantes, parques de diversão mil vezes mais delirantes...alvoroço..euforia, vida...

Quando passar por uma criança silenciosa não se apiede de sua agonia...apenas olhe dentro dos seus olhos e mesmo que não seja capaz de a ver por dentro, finja...e sorria.