terça-feira, 25 de setembro de 2012

Visão Erika




Eu sei como o cego vê o mundo, conheço o silêncio dos surdos, grito o verbo dos mudos ao mundo. Ninguém responde pois estão todos envolvidos com suas rotinas.

Só me cabe achar o mundo estranho, os valores torpes, os sistemas corrompidos e apontar meu dedo para eles, sem encostar, pois entre mim e ele,na verdade há um grande espelho, que reflete apenas a mim flutuando sobre a superfície do fundo abissal, e qualquer visão do mundo é mera abstração.

Eu sei sonhar acordada e faço da minha expressão o meu psicotrópico, o que aos olhos dos outros parece subversão é apenas utopia, imagens da minha idealização.

Talvez apenas por isso minha alma pareça mais livre que a dos outros, quem não consegue mover o corpo, catapulta a sua alma pra que ela tenha momentos de ilusão.

Eu preciso me defender crendo que na vida, não há oásis, há apenas um enorme oceano onde mergulho, mergulho procurando por pérolas e quando encontro alguma...Esse grilhão vem me arrastando pras profundezas fazendo com que elas passem por entre meus dedos, rosto arroxeado, cabelos flutuantes e uma luz cada vez mais distante de mim...pode ser tanto uma visão do sol, quanto do meu centro cada vez mais distante.

Eu vejo a vida do lado de fora, contemplo o ar que não me pertence, observo modos, inspiro, expiro, exprimo...Vejo gente dançando e sorrindo e meu pensamento maldito me sopra: isso não é pra você..não é pra você...só me resta vestir a carapuça da liberdade, e a encenar aos gritos...e logo após a última letra, encerrar, retornar.

Retorno e sento ao lado da minha companheira dor, olho ela no seu rosto cada vez mais enrugado, corpo raquítico, olhos arregalados, cabelos brancos ressecados, tento um diálogo para ela partir, mas ela me revela sadicamente seu dom da imortalidade dentro da minha finitude.

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