terça-feira, 24 de abril de 2012

Triste confissão




Eu deveria, poderia e teria argumentos da minha IMAGINAÇÃO para começar uma história com recursos lúdicos, líricos, tons pastéis, rimas ricas...e, incrivelmente eu sei chegar nesse extremo como poucos, e vou chegar... Eu tenho um diploma costurado em minhas vísceras, e não me orgulho da ausência de cadeiras acadêmicas dele, mas cada um faz o que pode. A burocracia me enriqueceria...com certeza. Mas só ela não me bastaria. Frequentei dores, pânicos, empatias, soluções, medos e milagres que ninguém freqüentou.

...Em baixo do tapete florido e com arabescos, está o sangue, está ali por anos, mas está fresco, vivo, bem mais vivo que minhas lembranças enterradas. Não chega a ser um líquido jorrado por um assassinato, ou por uma tão grave mutilação. É o sangue que está simplesmente por baixo do tapete da minha dor. Sua dramaticidade? Cabe a quem quiser interpretar, eu mesma tentei transformá-lo em algo lírico como meus quadros borrados e minhas poesias dispersas que não chegam a lugar algum, como eu...

Normal...assim todos crêem ser sua realidade, e por  muitos anos também o fiz. Por alguns outros anos tentei ser “o contrário”, nunca me dando por conta que “o contrário” é guiado justamente por sua oposição.

Detesto, me envergonho, me sinto humilhada em me lembrar das vezes em que eu apanhei, mas envergonhada ainda em lembrar que gastei anos tentando raciocinar “por que apanhei”...literalmente...sequer tenho consciência se eu posso ter me tornado ré em diversas situações, calcada na falsa realidade que aquele sangue me tornaria eterna vítima, a que sempre tem razão, a mártir?

Pois foram nestes dias de sofrimento que eu nasci, antes disso  minhas realidades eram diferentes...

Como é a dor de apanhar de um pretenso amor? É o fim de tudo, a falta de sentido, a ausência do espírito , é a descrença, o inconformismo e a loucura. Não há Maria que console...nem Madalena, nem mãe de Jesus, nem da Penha... O que resta nesses casos, é simplesmente repensar o que é amor.

No início, eu me vingava de minhas dores rasgando meus quadros e me trancava em um quarto escuro, e hoje questiono como persisti na crença em Deus, se é que persisti.

Mas anos depois disso tudo, eu estou “Desaprendendo a amar”, é isso mesmo, desaprendendo. Isso não que dizer que eu não ame.

Quer dizer que eu, e talvez todos nós, tenhamos aprendido da forma errada. E ao reaprender, eu acho que vou ter que utilizar essa mesma palavra para um conjunto de químicas e sentimentos diferentes dos que eu me acostumei. Por que eu  ainda não sei perdoar...e...”não saber perdoar” faz parte de amar? Eu não sei a resposta...

A memória nos prega peças. As imagens são fortes. Acho que o indivíduo que perdoa facilmente é simplesmente aquele que consegue criar novos cenários, se apegar a novas imagens e apagar totalmente as antigas. Talvez a palavra “esperança”, seja um segmento desse processo, se a esperança fosse uma pessoa, seria uma pessoa que não olha para trás...talvez essa "pessoa esperança", não consigo sequer olhar para si mesma, ou para o seu lado, pois só isso já faz com que se pese os prejuízos...os danos irrecuperáveis que a violência pode trazer para várias vidas, quando ela passa apenas dentro de um lar.

Juntar clichês é o meu repúdio, mas existirá amor sem esperança? Nesse emaranhado de “anças”, confianças, esperanças, bonanças... CONFIANÇA...não entendo mais nada e descobri que meu corpo sempre me enganou, pois o amor não está só nele. O amor mexe com o corpo, mas nem tudo que mexe com o corpo, é amor.

Amar é apenas estado de espírito. O estado de espírito que dá significado para a vida. O significado de montar família, montar um lar, gerar filhos...pagar contas, comprar uma casa...são metas dignas de quem ama. Toda essa “rotina”, é o meio e não o fim. Prazer, abnegação...talvez eu seja platônica em acreditar. Não, eu não sou perfeita também, obviamente. Estou chegando a conclusão, que os perfeitos erram, e perdoam, e impreterivelmente andam para frente. Estou longe disso e próxima das mentes encarquilhadas e que olham para trás, criticando e tentando consertar as coisas no local e tempo errado...pois o que passou passou, e por definição, os nós embolados, assim continuarão se não os desatarmos seguindo em frente.

Círculo, repetições em ondas, de uma geração para a outra da família, cada barriga gera uma hipérbole dos seus próprios medos e neuroses...onde isso foi parar? Há conserto?

Não posso negar a frustração de que essa “sala de aula”, não existiu , compensei observando, escutando, imaginando e sonhando...que, quem sabe ela existirá no momento em que minha maturidade me permitir. Por enquanto, eu vou apenas registrar o meu curriculum vitae, aqui, da forma em que a vida me levou a escrever.

Entendi a poucos dias, que os sonhos não tem começo e nem fim, são geralmente fragmentos. Eu sempre escrevi fragmentos...e tento faz alguns dias, ter algum insight para decidir em que ponto eu vou começar a escrever minha história, terminar então nem se fala, eu não acredito que as histórias terminem...

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