terça-feira, 24 de abril de 2012

Escatologia




As nuvens se formaram repentinamente em forma de Zeus, ou de Deus, ou de quaisquer fenômenos escatológicos...e começaram a soprar, a ventar, a destruir todas as paisagens de cimento de colorido quase acinzentado, formando um caos. A pessoas corriam pelas ruas com roupas e cabelos esvoaçantes, aterrorizadas e livres. 

Todas as construções foram derrubadas deixando apenas cinzas, pessoas descabeladas e nuas. Seguido o desespero do nada ter, veio a bonança do “nada a fazer”, e todos deitaram relaxados no nada.

O chão foi se partindo e dele brotando luzes em neon...verdes, azuis, amarelos, formando árvores e flores em forma de andaimes reluzentes. As pessoas nuas se levantaram para contemplar, e os reflexos das luzes tornavam seus corpos vestidos e seus cabelos como que repletos de vaga-lumes.

Esses andaimes reluzentes foram vagarosamente forrados por matérias que pareciam luzes, penas, folhas, galhos, águas, estrelas, pedras...formas que todos conheciam apenas de seus sonhos e de sua infância.
O choque humano, fez com que seus pés criassem asas nos pés, como Hermes, e todos começaram a voar em torno de si e dessa nova realidade.

A tristeza da perda, e a saudade das imagens destruídas, causava em todos, instantâneas nostalgias, que eram imediatamente apagadas pelo brilho das novas cores e impressões.

Os cabelos...ah os cabelos...passaram a ter outra importância, eram o movimento do ar e a extensão dos sonhos...E não conhecíamos todas as cores e cheiros, não éramos nada antes disso, além de autômatos esperando a morte e a submissão de nossa matéria a fazer parte da matéria morta e árida.

Pois a matéria não é mais morta. Ela é a extensão dos nossos bons pensamentos e a ressurreição de todos os sentimentos nobres. As plantas são mais brilhantes, o céu tem mais cores que o azul e a vida vai muito além do nascimento e da morte, dando finalmente um sentido a vontade de estar vivo.

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