segunda-feira, 30 de abril de 2012

Gente Singular



Não sei se dói, ou se apenas estranho o fato de não sentir mais alegria ou prazeres no que era habitual para mim.
Crescer, no sentido apresentado como social, não me interessa, e se, por um tempo fingi me preocupar com cotidianos, talvez para manter minha sanidade mascarada com roupas sociais aceitáveis, hoje, atingi o que considero meu ápice: “cago e ando”. Não há alegria nisso...essa sou eu, por debaixo de tudo que me fizeram aprender ou ser.
Eu pari minha filha, e só assim entendi que mais amplo do que a normalidade, é a singularidade. E só há dois caminhos para a singularidade: a escolha ou a fatalidade.
É como um prazer dolorido, são quase sádicas as visões que passei a vislumbrar depois que arranquei meus olhos, e por baixo destes, novas órbitas me mostram outros significados de coisas que eu achava banais ou muito importantes. Tudo material passou a ser feixe, ilusão, impressão, etéreo...e os sentimentos, as dores, as saudades, os amores, passei a perceber como o que há de concreto,
Sim, essa inversão já teve em mim o peso de uma deficiência.
A transcrição dos meus sintomas talvez configurassem caso de internação para alguns “doutores”, que hoje entendo...aprenderam a ser um imenso cordão de isolamento, o front da guerra contra as diferenças, portando dicionários e compêndios para classificar as aberrações humanas, cuja sociedade precisa ser poupada do convívio.
Aquelas pessoas...que tem vontades, desejos, dificuldades ou costumes que não estão transcritos nos parâmetros da normalidade, por isso vão ser incluídos em listas de síndromes de nomes estranhos, sejam essas síndromes já descobertas e comprovadas em hélices de dnas defeituosos, ou síndromes que, ainda inexplicáveis ou incomprovadas.
Gavetas mais fáceis de armazenar nossas mazelas, essa qualificação também facilita a escolha do remédio a ser indicado, ajuda também, que nós mães, nos conformemos com o laudo que PROVA que nosso filho não passará de um autômato, afinal de contas, nós também sempre fomos...assim como nossos filhos que não necessitaram ser enquadrados, não enxergam que o limite da indiferença está um passo antes da linha da tolerância, sequer sabemos o que há do outro lado, mas com certeza, é um mundo melhor.

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