Engraçado é que
esse era o principal bordão do meu pai: -Erika! Faça o que eu digo,
não faça o que eu faço! Com o passar dos anos compreendi essa
frase como o símbolo principal do falso-moralismo. O fato é que
creio que a anti-educação dele deu certo...Certo? Sim, aprendi a
não dormir em travesseiro de pedra.
Apesar das perdas,
apesar de já ter compreendido que os louros não chegam em moedas de
prata... aprendi que a vida não é um escambo. Que não devemos “ser
bons” objetivando recompensa, objetivando nada. Aliás, sequer
devemos ter a pretensão de que dominamos os conceitos de “certo e
errado”, se esse conceito existisse, não seria nos dado o livre
arbítrio que nos dá acesso na verdade a mais de dois caminhos.
Quando meu pai
estava para morrer eu ficava de mãos dadas com ele o tempo todo, e
tentava falar de Jesus. Um momento ele chorou muito e com raiva disse
que não merecia o que estava passando, eu respondi que vários morreram "sendo penalizados" e sem ter culpas, então pedi que ele parasse
de buscar um motivo para a dor... ele me disse que a dor dele era a maior de todas. Eu não consegui acalmá-lo, mas ele me fez jamais pensar em Jesus, ou quaisquer religião apartir desse momento, e passar a pensar apenas nos homens e suas mazelas.
Ele era gerente de
treinamento do Serpro, foi ele quem implantou a gerência de recursos
humanos nessa entidade e eu nem tinha noção disso, quando um colega
dele me disse que o projeto que ele implantou modificou e fez crescer
essa instituição, mais ou menos o que o Lula fez na indústria
metalúrgica e se tornou presidente, meu pai fez, ninguém nunca
ouviu falar dele, e morreu em péssimas condições, como muitos que
se foram nesse país, muitos amigos dele... os tais da geração Baby
Boomers...muitos morreram como mastodontes sem presas, pois
aprenderam a sentar e comer, mas não aprenderam a caçar. Na época
em que “desemprego” soava tão mal quanto “câncer”.
Eu ficava sentada na
mesa, vendo ele desenhar as transparências, com pirâmides de Maslow
e livros de Peter Drucker espalhados na mesa. Meu professor. Mortes
sem objetivo? Kamikazes involuntários para uma sociedade onde seus
filhos não ficariam mais sentados sobre a estabilidade. A
estabilidade que debilitava os cérebros e a liberdade de pensar. A
falsa segurança, talvez até a falta de fé.
Os pobres não são
lembrados e jazem como adubo sob os nossos pés.
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