sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Escrava da Condição 2






Você! Você mesmo! Quanto custou? Quanto te deram pra soterrar a sua vocação? Onde estava a sua honra, sua ética, no momento em que assinou contratos pra vender a sua alma? A resiliência que você julga ser sua...talvez realmente seja, a força motriz que te impele a ter, te proíbe de ser.

As vezes acho que de noite preciso fugir das palavras profundas e de dia aprender a me entregar aos sentidos rasos da vida. 


Ainda por cima...acho que não consigo escrever pra muitos e nem pra tão poucos, muito menos me entregar pouco pra muitos...mas muito pra poucos...o fato é que minhas noites de delírio, mantém viva durante os dias.

Poucos que gostam de meus verbos, por eu ter poucos pedaços de espelhos...todos tem espelhos dentro de suas imagens, alguns tem tantos e tantos que todos se vêem em suas palavras...mas...eu não acredito na originalidade o unânime, somos deveras diversos, a pieguice é o sinônimo fiel do pior dos sensos coletivos. 

Se você gosta do que muitos gostam, sinto te informar: Você não comanda suas escolhas, que te comanda é o "capitão do mato" do teu ego...ele só quer que você volte a dormir na senzala repleta de irmãos, que morreram sem poder existir.

Se manter como se acredita ser, não é pra todos...mas, eu não compreendo como que aqueles que fogem de si não se sentem abnegados de seus próprios bens...ouço assustada algumas críticas sobre "as minhas privações", sobre o fardo das minhas entregas, sobre a clausura das minhas opções, escuto calada seus julgamentos...

Quando alguns me vêem "perder o meu tempo", escrevendo...associam-me a uma louca que rasga dinheiro, uma alienada que se abstém de contratos, um pouco menos que demente: apenas uma mulher que não é resiliente. Sou! Sou resiliente! Mudemos apenas a ótica:


Eu não sinto dor. O arrependimento não me atinge, eu tenho a real noção de que faço apenas o que eu pude, guiada pelos meus desejos, vocações e até pelas minhas veneradas limitações.

Nenhum teto me pertence, mas meu travesseiro não é de pedra...mesmo se fosse, ele não suportaria a força das toneladas de sonhos que minha mente fabrica...

O lugar comum passa bem longe de mim, persuasão pra mim...se chama afeto...Adaptação só existe casada com o carinho, sexo às vezes pra mim é amor, às vezes invasão e na maioria das vezes o vigor dos bichos...por que esse raio de compulsão, de dissecar e demonstrar o meu perfil?

O cansaço e a desilusão tem me assolado, só esse é o meu inimigo número 1. Quem vê meu rosto, quem lê minhas palavras, enxerga apemas a ponta do iceberg dos meus tormentos e eu sei o endereço, nome e sobre nome de cada um deses predadores.

Estou apenas começando a aprender a escrever sem amarras, hoje não é possível ainda pra mim, falar ou escrever tudo que sinto, na intensidade que sinto...eu necessitaria de muito mais coragem, cores, sons e dos cheiros, pra falar das dores que assolam a minha alma...

Isso justifica o meu recrutamento de artistas, cada um com seu idioma traçado por pincéis, cifras, formas...mestres que sabem o quanto a palavra limita. Eles me ajudam a não me afogar em letras, me permitem boiar sob o mar da ignorância montada em suas costas, me agrada estimular desenhistas a criar universos, fazer escultores modelarem o que não é tangível.

Os acompanho aos artistas na crença de que cada um seja uma nota musical, uma tinta, uma paleta...Integrá-los não foi uma escolha, talvez seja a única arte que me restou.

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