quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

As Engrenagens





Antes do mundo ser mecânico, nasceu uma fábrica de engrenagens...elas tinham vida. No futuro elas movimentaram relógios, giraram moinhos, fizeram a primeira locomotiva andar e alavancaram (ou não) o mundo.

Elas tinham obviamente, que funcionar, o ser que construiu essa fábrica, não queria que todas as peças fossem iguais, ou não queria, ou não conseguia essa façanha..pouco importa,elas eram diferentes uma das outras, umas pequenas, outras grandes, entre a mais forte e a mais fraca haviam várias, assim como não era só a clara e a escura.

O engenheiro mágico que as fez, não teve como planejar como elas funcionariam em conjunto, ele foi fazendo, foi fazendo, e depois ele começou a testar as combinações, pra saber se algumas funcionariam "redondinho". Ele fez várias combinações...como a tecnologia em si ainda não existia, essas engrenagens movimentavam cores, ares, arco-íris, ventos, paixões, amores e tudo que já existia nesse universo até então sem metal.

Algumas então começaram a rodar, com essas combinações de peças muito distintas umas das outras. Na maioria das vezes, um conjunto de uma média de 7 peças não funcionava, e quando ele colocava uma maior e mais forte, tudo começava a girar.

Mas essas peças tinham vida...de noite elas dormiam como nós dormimos, quem sabe até sonhavam...essa tal peça maior era sempre a última a dormir, além de ser a primeira a acordar, a responsabilidade dela era grande, sem elas o mundo não andava.

Muitas peças se aproveitavam de seu comando, simplesmente pra parar de trabalhar, e faziam das outras peças, suas escravas. Outras fraquejaram não possuindo nenhum poder de liderança e formaram sistemas caóticos, a coisa mais difícil era haver um sistema "meio termo", onde essas peças impulsionassem suas engrenagens, apenas através do equilíbrio do seu ritmo, mesmo por que, elas não entendiam o que é meio termo, só entendiam a dualidade de ou funcionar ou parar, obedecer ou mandar.

O tempo foi passando, e essas peças maiores foram ficando desgastadas, cansadas, e o engenheiro mágico, precisava tirar essa peça mor, por que o tempo útil dela acabava, e lógico, acabava mais cedo do que o tempo das outras peças que dormiam na hora que queriam, e nem precisavam fazer tanto esforço.

Não havia como fazer outra peça mor, pra cada uma dessas engrenagens, então por dias não havia ventos, a maré não subia ou subia excessivamente, o sol queimava ou o frio congelava...o caos imperava quando essas peças se acabavam.

O engenheiro então foi observando, que cada um desses sistemas se comportava de um jeito quando perdia sua peça mais forte, alguns sistemas desmoronaram e não houve conserto, diz a lenda que existiam cores que não conhecemos, fenômenos que se extinguiram, haviam mais pedras preciosas...muita coisa foi se perdendo em função dessas coisas emperradas.

O engenheiro entendeu, que estava sendo injusto com todas as peças, pois as mais fracas não aprendiam a funcionar nunca, e as mais fortes partiam cedo ou se tornavam peças execráveis.

As que partiam cedo, ficavam moribundas assistindo seu sistema falido, sem nada poder fazer, elas se dedicaram ao funcionamento de algo que só existia enquanto ela aqui esteve, largava as peças abandonadas ainda sem ter como se movimentar.. As engrenagens dos sistemas corrompidos, continuavam corrompidos e aguardando outra peça que falasse a "mesma linguagem" da anterior. Algo diferente desses dois exemplos, foi chamado de "utopia" por uma peça que se chamava "comodismo". 

Foi observado, que alguns sistemas que largaram essa tal peça "comodismo" e também a peça "medo", seguiram em frente e desmascararam essa tal de utopia.

Também diz a lenda, que algumas peças mor, foram se tornando malandras e egoístas, cansadas,propositalmente, pois observaram que as peças que se foram, criaram uma enorme relação de dependência, então decidiram ir parando de rodar em vida, algumas devagar e outras mais rápido...

As que foram parando devagar, foram assistindo o progresso das peças menores, então apesar de terem sido tachadas de egoístas, começaram a usufruir de um descanso necessário e viram o progresso das outras peças...estas engrenagens, quando suas peças mor partiam, tudo continuava funcionando pois elas aprenderam o que é independência.

Algumas infelizmente, nada restou além de serem radicais, e pararam abruptamente, mesmo continuando na engrenagem, era um drama, quanto xingamento a pobre aguentava, mas elas sabiam que estavam fazendo aquilo, pelo oposto absoluto do egoísmo, pois elas partiriam e tudo haveria de continuar funcionando.

Algumas tomaram essa atitude, e tiveram que ser mais radicais: Sair desse sistema, pois sabiam que se ali permanecessem, seriam trituradas pela sua própria falta de energia. Algumas peças se trituram realmente por pura covardia de tomar uma decisão de continuar ou sair, outras, ao perceberem que não haveria outro caminho pra se manter funcionando, partiam pra outro sistema, antes que o seu próprio fim, fosse determinado.

Até hoje, as pessoas julgam e pesam, quais peças amam e quais não amam, e o mundo de hoje é movimentado por essas peças, ainda sem ter critérios pra pesar o que é egoísmo, o que é amor, o que é cooperação...nada é distribuído de forma justa ou democrática. A melhor forma de evitar problemas, é simplesmente ser mais uma peça e evitar riscos ou responsabilidades.

Muitas peças mor vagam por aí, elas não tem mais nada a perder, e por isso, elas não medem engrenagens e seus funcionamentos, elas já perderam tudo, só querem ter o seu direito de tentar seguir em frente, e quem sabe, cruzar com outra peça abandonada e simplesmente decidir se movimentar, diz também a lenda que duas peças que se uniram apenas pra tentar sobreviver: Viveram como nunca, e construíram o maior e mais forte moinho de vento de todos os tempos...

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