domingo, 3 de junho de 2012

A vadia virgem.



Descobri que nascemos mortos em caminho à "Vida", e ela é uma uma mulher, sim: Eterna mulher desconhecida....essa mulher que nasce muito, muito velha e esquecida, e vai rejuvenescendo com o passar dos anos.

Na flor da idade, a Vida dá pra todos, se manifesta com vigor, abre suas pernas e se deixa usar.... Dorme com todos no meio de seu caminho, mas ela parte criança, cobrando pelos seus serviços em moedas sejam de ouro ou prata.

Ela que veio velha e já foi cheirosa e curvilínea, parte como uma criança... Provedora e castradora. Linda ameaçadora...Pois é...percamos o medo desta puta inocente enquanto ela ainda está com disposição. Gozemos enquanto sua companhia for inevitável...em agradecimento ela me solta bem aos poucos ao vento...quão mais sou livre, menos preciso do seu  suprimento...nesse momento ela sussura:  "Quanto mais   se aproxima da morte, mais se apieda do nascimento..."

Quando escrevo ela me dá um tambor, e me diz: Toque igual as batidas do seu coração, e perceba que estou ao seu lado neste lugar onde todos os meus filhos foram misturados...então ela samba por entre minhas letras, sai do mar como Iemanja e mergulha como Poseidon, se embrenha na terra como Gaia... gera filhos como Ísis...rebola como as semi-Deusas que aqui brotaram.

No caminho reverso da estrada, nesses três quartos do caminho, ela me fez virgem. Tanto com esta mulher caminhei, passei ao seu lado por tantas, mas tantas bifurcações, que ao olhar para trás, quanto mais o tempo passa, tudo é confuso, tudo é imenso...menos eu sei...e olhando pra frente eu sou Virgem! E tudo que me penetra, é a primeira vez que me invade.

Essa sábia ordinária me aponta que são tantos que eram para ser e não foram, tão poucos que não eram e estão... e todas, e todas aquelas crenças que tínhamos sobre ela... se afogaram nos tsunamis invisíveis do passado deixando poucas lembranças...e as que ficaram, nossa, e as que ficaram ela estava ainda em meia idade, ao meu lado no primeiro choro dos meus filhos, no beijo final do meu pai e o  primeiro banho do meu neto...sorrindo e batendo palmas.

Frente a frente a mim, ela sorri, quando a conto que a  paixão já foi tão mais dolorida, o choro apesar de mais intenso, completamente infundado... e que apesar da ignorância proporcionar mais possibilidades de surpresa...tudo já foi tão mais complicado...

O amor... sobre o amor ela me chama de pretensiosa, pois nem ela o detém visto que só querem o seu corpo...o amor então, aquele que um dia acreditei estar em minhas mãos, aprisionado...não cabe em mim e por isso não me pertence como a terra não é dos índios mas por eles foi cuidada... são todos filhos dela, a tal da Vida Vadia Virgem...que pari e solta no mundo. A cretina diz crer que essa abandono é o maior ensinamento aos seus filhos...e por isso passamos anos tentando desvendar quem é o nosso pai...mas como saber se ela dormiu com o sol, com o mar, a terra e todos os gases do Universo....

Com ela ao meu lado, quanto mais me visto para encobrir os nós do meu tronco, mais minhas folhas sobem, mas os frutos são doces, pois no caminho reverso da estrada, meu corpo é o pobre santo velho que suporta minha jovem alma vadia, como esta puta virgem que estou ao seu coloamante sábia que de noite esconde o corpo, criança ingênua vestida de dia...

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