sexta-feira, 1 de junho de 2012

Crônica da moça perdida



Em casa, as crianças aprendem que o sucesso são as marcas, aprendem que existem carreiras em alta! Que eles precisam sobreviver. Aprendem que: Arte menino!! Isso é coisa de bicha! E é banal! Isso não tem propósito no nosso tempo meu filho! A arte já atingiu limites sua boba! Da Vinci foi um gênio que não existe mais! Van Gogh morreu louco! Cazuza morreu de AIDS! Elis de overdose! Morrer?? Pra que?

Eu. Sou louca (sinônimo de pensamento livre). Se dentro dos meus conceitos de eternidade, me perguntassem antes de vir: Erika, você vai lá embaixo, você vai voltar no tempo e vai renascer na alma de Van Gogh, você não vai ter o poder de mudar nada que ele fez, você vai ter só que sentir, viver, sofrer e morrer como ele...você quer descer? Eu desceria! Eu pintaria seus quadros, eu cortaria sua (minha) orelha, e morreria louco. Mas eu viveria essa experiência.

Eu acho que estudei pouco. Não li grandes filósofos. Do pouco que ouço de alguns, me encontro modestamente em alguns raciocínios. E a minha resposta bem simples para essa identidade é: Sempre pensei muito. Estou errada. Não quero ser ignorante. Não me justifico por minhas mazelas. Sei que das “vezes que cheguei atrasada”, eu simplesmente cheguei atrasada por motivos que não eram para me servir de desculpa: Eu sei os caminhos, eu sei que o rush existe, eu conheço como ninguém as eventualidades. Mas muitas vezes eu não cheguei. Muitas, muitas vezes mesmo, eu desisti antes de chegar, muitas vezes eu cheguei e vi que não era aquilo que eu queria  ou saí de fininho, ou saí correndo, ou me desesperei. Mas eu quero me perdoar, nunca me justificar. Entendo agora, que todas as minhas perdas, principalmente as materiais, ou todos os caminhos que não cheguei ao fim, são fruto da minha total incapacidade de transitar de minha razão para minha emoção. Eu sei, que todos os dois lados, são muito fortes em mim, mas eles não conseguem conversar, eles não sabem negociar.

Quando me lembro de minha infância, me lembro de uma criança que ia excepcionalmente bem a todas as disciplinas escolares. Estudei nas melhores escolas e tive pais que me ensinaram o que é liberdade de uma forma que pude avaliar todos os ônus e todos os bônus que essa liberdade me concebeu. E eu mesma não sei dizer em que ponto em que minha razão e minha sensibilidade começaram a brigar. Tudo que sei, é que tive diversos motivos sim, durante a passagem da adolescência para minha vida adulta, em que os acontecimentos eram tão intensos, tragédias na acepção mais comum da palavra, ocorreram e os diversos caminhos que eu tinha com relação as minhas vocações, se multiplicaram em milhares de dúvidas que, se por momentos, minha razão tentava me orientar para um desses milhares onde eu poderia ganhar dinheiro, ser doutora, matemática ou outra coisa qualquer com grande conhecimento, minha emoção começava a gritar para escrever, para pintar, para não me preocupar com a matéria, para eu dizer um foda-se para o sucesso...e eu dizia. Não sei ainda por que. Não sei ainda como consertar esse diálogo.

Sei que tem momentos que eu poderia dizer até que sinto fisicamente essa briga interna. Sinto essa força. Sei que ela é grande e sei que ela pode fazer de mim uma louca ou alguém com uma sanidade diferenciada. Sei de certa forma traçar meus pontos fortes e fracos. Sou inteligente. Raciocino acima do normal. Consigo bloquear interferências, isso pode ser bom, por que minhas noções de justiça são limpas, difícil contaminar minhas idéias, fácil melhorá-las, mas difícil contaminá-las no sentido de que sempre tentei refletir onde está o pensamento da massa e sei onde está o meu. O que eu achava ser meu ponto forte, sei que é minha fraqueza: Não sei fingir. E quando busquei meus conceitos de “fingimento”, talvez eu tenha sido sim contaminada. Mas o fato, é que se já precariamente entendi o que são as máscaras que vão me possibilitar a EXIBIR só o que eu quiser de mim, eu tenho quase certeza, é que tudo que está aqui dentro brigando, é bem diferente do que podem esperar de mim, e muitas dessas máscaras sociais que eu deveria aprender a incorporar, talvez em mim inexistam...

2 comentários:

Karen disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Karen disse...

Adorei. Senti como se eu tivesse escrito esse texto.