sexta-feira, 8 de junho de 2012

Casa




Em casa que se entra de mãos vazias, se sai de mãos vazias. Eu entrei de mãos vazias, cabeça aberta, ouvido seletivo e boca apaixonada.

O meu usufruto das coisas que aqui estão não configura minha posse sobre nada.

Eu vou e minha casa fica, meus livros e filmes, meu cabelo ao qual tanto me preocupa a sua beleza, também fica, sobre os vermes. Até meus filhos ficam...

Nunca darei a eles, meus filhos, coisas que nunca me importei em ter. Pois toda vez que eu olho para as coisas, as mais simples coisas produzidas, o que me vem em mente é todo o seu processo de produção: Tanto as vidas que proporcionaram a produção dessa “Ilusão”, quanto aqueles que acreditam que a apreensão dessas “coisas” os fará mais feliz.

Penso também que essas vidas que criam “produtos”, o fazem pelo dinheiro que comprará novas produtos...que são produzidos por outras vidas, que também criam outros produtos, que será consumido por outras vidas...

Eu já tive a crença de que vários períodos já foram mais interessantes do que os nossos, em função dos valores de glamour que estes possuíam. Mas meu fascínio tem retrocedido, a um tempo onde glamour não existia. Nesse lugar a casa era mais enfeitada, e os bens dessa terra não submetiam ninguém a fazer parte de uma pirâmide de produção. 

A natureza sempre foi o mais democrático de todos os sistemas, essa fábrica sem operários é a melhor comparação que existe entre os filhos e a mãe: Quanto o mais cuidarmos o seu leite, mais leite ela vai produzir, em troca nos bastaria que não feríssemos seu corpo, o que não foi possível para nós, operários acostumados a apenas esperar o pagamento e depredar seu ambiente.

Mas essa casa é sagrada, não apenas pelo que ela produz, mas pelo fato dela ser um enorme lar, que aconchega milhares de visitantes mal educados.

De tudo que eu posso vir a deixar para meus filhos, apenas as boas ideias terão vida perpétua. Você pode se programar para deixar suas idéias para os seus netos ou bisnetos, não há inventário para divisão de bens que se multiplicam.

Eu parto com mais idéias do que quando cheguei, deixo as mentiras que meu ouvido ignoroue com os carinhos que minha boca apaixonada conquistou.

Nenhum comentário: