terça-feira, 28 de agosto de 2012

Per Vertere 2




Hoje cago e ando pra minha utópica "evolução espiritual", entendo em primeiro lugar: ninguém cresce à força, em segundo lugar: não devemos ter a pretensão de dominar "o que é crescer". No nosso tempo já era para as pessoas estarem desimpregnadas dos conceitos de "crime e castigo". Hoje, o que eu acho assustador, avassalador pro espírito, são justamente essas prisões morais. Elas cada vez mais fazem com que pessoas livres pareçam pessoas dignas de penitências.


Eu me sinto ar, me misturando em entropia em todos os contatos humanos. Algumas pessoas são vendavais, e se muitos se afastam desses redemoinhos, (por vezes escondidos de cada um), temendo ser sugados pelos seus olhos, eu me aproximo
 e quero olhar o centro. 

Nesse centro rodopiante, encontramos pedaços que são nossos: Em todos os "exageros ricos" há espelhos, há pedaços ali que transcendem os nossos limites individuais, e quem aderiu a intensidades extremas, passou por todos nós arrastando nossa pele, órgãos, comportamentos, dores, e...ali estamos todos. Nós e nossos mais primordias instintos.

Importante olhar pra um livro completo, de muitas páginas...ler, e voltar pra sua própria leitura: ao fazer isso, enxergamos traços nossos, que eram óbvios, mas não queríamos ou conseguíamos enxergar. Entrelinhas do nosso dia-a-dia, que passam por nós, sendo ignorados...interpretados como vazios da alma...

Conversando com uma amiga, tecendo comentários sobre o "bondage", ouvi dela o seguinte: Tudo bem Erika, o exemplo ajuda a aprender, mas será que essas pessoas não pensam em "compromentimento espiritual"? Hoje, aos 41 anos, acho essa observação tão patética o quanto elucidativa. Não podemos olhar ou compreender comportamentos humanos temendo o espírito, a razão, a loucura, ou seja lá o que for, ao contrário disso, precisamos retornar às nossas origens onde a moralidade ainda não nos comandava.

Entendi então, que o medo desses contatos, advém do medo que a alma (o ser pensante) tem, de se olhar no espelho. Esse espelho, vai mostrar que todos "os males" que acreditávamos deles "estar livres", são justamente os males que nos aprisionam, só a natureza é livre pois não carrega a moralidade.

O fato de não vivenciar "nossas sombras", não anula a existência das mesmas, pelo contrário, esta vai nos comandar de forma latente, nos movendo em entrelinhas surreais, impulsionadas tanto pelo nosso inconsciente, quanto pelos nossos instintos primordias que tem adquirido uma evolução à parte de nossa evolução racional. 

Alguns compreendem que a melhor maneira de dominar a sombra, é deixar ela viver, olhar para ela de forma segura, dar a ela um espaço físico dentro do próprio lúdico do sexo, sem a crença de que com essa vivência ela irá dissipar os comportamentos possivelmente violentos, fora das 4 paredes. Pelo contrário, talvez ela não deva ser dissipada mas sim direcionada, pois faz parte do ser.

Aqueles que a aprisionam seus "aspectos sombra" em cárceres privados, não se percebem alimentando um monstro em um porão incomunicável. Em algum momento, esse minotauro escapará e derrubará todas as barreiras para chegar ao consciente. Sábio é aquele que irrompe seus labirintos e transforma seus monstros em máscaras para que com elas, consigamos brincar como se fôssemos crianças. E é isso que fazem alguns adeptos do bondage. Chego a achar que "essa brincadeira" poderia ser a chave para evitar que alguns executem crueldades, fora de 4 paredes.

Entre as tais 4 paredes, estaria então um possível pátio pra exercitar nossas "humanidades"? Levando em conta que humanidade é o que traduz a natureza de cada um, até em seu sentido mais animal ou perverso. Seria o sexo o momento para ir de encontro, ao que nunca deixamos de ser: bichos, isso, é fato que somos. Bichos castrados.

É difícil tentar compreender por que alguns sentem prazer em atos de tortura. Se na ação do dominador, fica claro que nesse momento ele vai expurgar a violência contida, como compreender o prazer daquele que nessa hora, assume a submissão? É possível enxergar o exercício de uma sombra que quer executar a violência, mas como e por que as sombras de alguns, pedem punição, castigo?

Não levando a princípio, a submissão para esse lado extremo da dor e do castigo, ainda não somos capazes de refletir claramente sobre nossas energias submissas (ou dominadoras), e sobre elas eu venho refletindo, nos níveis mais brandos e nas suas origens.

Me lembro em um dos episódios de Game of thrones, a personagem Daenerys Targaryen, ao chegar em uma comunidade primitiva, se depara com uma primitividade sexual, onde o sexo acontece apenas com o homem no papel de dominador e a mulher em seu papel submisso, e por isso, as mulheres eram sempre pegas por trás, ficando vulneráveis aos homens nesse sentido, e assim provavelmente era, no início de nossa natureza não racional.

Os séculos construíram uma história de bichos homens no comando, como se fossem eles os eternos dominadores, e não submissos a vontade das energias femininas, os responsáveis pela condução "da cruza" e da vida. A construção dessa história em Game of Thrones é muito inteligente, mostrando que a mulher, ao compreender o seu poder sobre o homem, muda essa posição e passa a deliberar a possibilidade de ficar por cima, surge então uma nova mulher, que através de sua razão é capaz de tirar proveito, do desejo masculino, antes disse não existia o desejo na acepção "Nitzcheniana" da palavra: Ele surge no momento em que há um leque de opções e uma mente pronta para deliberar sobre a forma de prazer a executar ou negociar.

Pensando nessa linha, sexo certamente foi a primeira moeda de negociação feminina, a primeira possibilidade de reverter um papel de submissão a um de dominador, é difícil compreender essa dicotomia, pois a princípio, quando falamos de mulher explorando o sexo sempre vêm em nossa mente a imagem ainda, de um ser submisso. Nossos excessos de moralidade, não nos deixam compreender que para elas, isso era praticamente uma "ferramenta de Maquiavel", uma dominadora usando máscara de submissão, para induzir o homem à um destino por ela programado.

Seguindo esse raciocínio, não fica difícil compreender que dominação e submissão, são os dois lados da mesma moeda. Uma moeda usada por quem quer impreterivelmente, disputar poder.

A pergunta que me faço então, é até que ponto, essa mulher adepta do bondage, está ali, usando uma máscara de submissão, um fetiche no qual ela poderá estar amarrada, algemada, limitada...e ao mesmo tempo, prendendo totalmente a atenção masculina. Manipulando o desejo desse dominador, que ele sim, provavelmente, mesmo de membros soltos, se encontra escravo da força desse desejo.

Com todas esses explicações e caminhos racionais, de tentativa de compreensão do que parece ser incompreensível, as pessoas que estão envolvidas, nessas tramas de prazer, calculam e racionalizam seus desejos e atitudes, nesse nível de compreensão? Creio que a maioria não.É sabido também que nossas repetições comportamentais, depois de muitos anos de repetição, são aderidas pelos instintos, e os instintos não envolvem racionalização.

Anos e anos de teorias psicanalíticas, teóricos de maior respeito, como Freud, procuraram racionalizar diferenças comportamentais no sexo como distúrbios de origem infantil. Esqueceu-se os engendros da mente humana, do acúmulo do inconsciente coletivo, e do caminho tomado pela evolução (ou involução) dos nossos instintos.

 Seria toda a nossa "perversidade" causada por traumas do indivíduo ou pelo nosso caminhar em direção oposta à nossa natureza primordial?

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