sábado, 22 de outubro de 2011

A morte


É...a vida continua, e a morte a desmistifica, a simplifica e a torna banal.
Só perdendo alguém nos damos por conta, finalmente de  que tudo é passageiro, pouco é nosso e quase tudo emprestado. Como e pra que continuar essa jornada? Sorrindo? Sorrir na certeza de que aqui somos clandestinos é muito difícil, mas vale o esforço sorrir para ajudar aos que estão no início de uma caminhada, e na certeza de que solidão é apenas saudade que um dia vai ser esgotada.
Talvez eu tivesse acreditado até hoje que a fé me traria um 0800 espiritual  de consolo...onde com uma linha direta, eu teria notícias daquele que sempre quis saber a hora que eu sairia ou iria chegar. É as notícias não chegam mesmo, e eu me sinto talvez como ele se sentia nas noites em que eu saia sem dar notícias e ele ficava me esperando na porta. Eu sei que ele está lá, mas não sei como, isso é desconfortante, além da saudade.
A fila anda...é isso também que a perda te mostra...continua caminhando e de cabeça erguida...faz algo que ele tenha feito, e coisas que ele deixou de fazer...tenha tempo para seus filhos...ame...seja carinhoso...diga hoje o que sente...trabalhe muito sem deixar de relaxar...
Certa vez uma amiga me disse que amava muito o marido, eu a perguntei o que ela faria se ele fosse para uma guerra, ela respondeu prontamente que se casaria novamente, eu respondi: -Pois é, a um filho, se espera. Pensei outro dia: -Será que minha avó, depois de anos desencarnada, ainda tem o mesmo sentimento por mim? Deixamos de ver amigos por anos e quando os vemos, sentimos como se fosse outra pessoa. Me lembrei dos laços eternos, aqueles que o tempo não rompe. Acho que eles existem sim. Apesar da perda, acredito que em algum lugar ele e outros laços que cultivei, que consegui amar apesar de desavenças, que consegui perdoar e ser perdoada, que não se mantiveram por valores superficiais...estão aqui e lá, perenes, na verdade, a única força perene da natureza, e é por ela que devemos continuar sorrindo.

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